Este mês celebramos o Abril Azul, dedicado à conscientização sobre o autismo. No Instituto BRF, temos o compromisso de apoiar iniciativas que promovem a inclusão das pessoas com deficiência, como a Stardust , participante da Iniciativa Potências do Nossa Parte Pela Educação.
A startup, focada nas áreas de RHTech e EdTech, é uma referência no trabalho com o público neurodiverso, que representa até 20% da população global, conforme dados da Organização Mundial da Saúde. No entanto, esse mesmo grupo enfrenta desafios significativos, com taxas de desemprego entre 60% e 80% devido à estigmatização, falta de compreensão e falta de acessibilidade.
Conversamos com Sarah Fernn, fundadora e CEO da Stardust, que compartilhou dicas cruciais para empresas interessadas em contratar pessoas neurodiversas. Confira a entrevista na íntegra.
IBRF - Como é a atuação da Stardust Zone? Por que a escolha desse público?
Primeiro, faz sentido contextualizar que nós trabalhamos com o público adulto neurodivergente e dele fazem parte pessoas que são, por exemplo: Autistas, TDAH, disléxicas, descálculas, superdotadas, bipolares, borderline, tourette, entre outras condições que podem ser encontradas em nosso site.
Esse público representa até 20% da população global, segundo a Organização Mundial da Saúde. Ou seja, atualmente em torno de 1 a cada 8 pessoas no mundo é neurodivergente. Talvez você, que está lendo essa matéria agora seja e nem saiba, já que o processo de diagnóstico ainda não é tão acessível quanto em um cenário ideal.
Para uma pessoa neurodivergente é 8 vezes mais difícil encontrar um emprego, em comparação a uma pessoa que não é neurodivergente e 3 vezes mais difícil do que uma pessoa com deficiência aparente. Lembrando que pela regulamentação brasileira, pessoas Autistas são consideradas pessoas com deficiência.
Descobri tudo isso por meio de pesquisas e atuação voluntária nos últimos 6 anos, depois de eu mesma receber meu diagnóstico de TDAH. E agora, no último ano, estou em processo de diagnóstico de Autismo. São dados alarmantes demais para ter poucas organizações ainda pelo mundo fazendo algo por esse público. A Stardust nasceu para ser uma das referências entre elas.
Resumidamente, nós atuamos de forma 360, em 3 vertentes: B2B (Business to Business), B2B2C (Business to Business to Consumer) e B2G (Business to Government). Isso quer dizer que oferecemos alguns serviços principais que se conectam como: Letramento/Sensibilização sobre Neurodiversidade para organizações públicas e privadas, conexão (match) de vagas e talentos neurodivergentes, fornecimento de cursos livres profissionais nas áreas de tecnologia, economia criativa e ciência, e consultorias para formulação de políticas de públicas e políticas em organizações privadas, de contratação e permanência. Tudo elaborado por times majoritariamente composto por especialistas neurodivergentes.
IBRF - Como foi a experiência de participar do Nossa Parte Pela Educação?
Foi excelente e recomendamos imensamente. Tivemos muito apoio do Quintessa e do Instituto BRF em cada fase do programa. Sabe, entramos bem naquela pegada de "um PDF, um pitch e um sonho", e o programa não só nos ajudou a entendermos nosso público-alvo e clientes, assim como nos conectou com atores relevantes do nosso mercado, bem como com pessoas executivas da BRF. Nosso progresso durante o programa, justamente por todo esse suporte, foi exponencial.
O programa contou com jornadas completas sobre MVP, investimento e diversidade, por exemplo. Fora o pitch, que foi um momento especial à parte, muito positivo e a oportunidade de encontrar pessoas queridas durante o programa. E mesmo com o término do nosso período no programa, ainda podemos acessar a rede de pessoas empreendedoras Quintessa e a rede que foi construída durante o programa, e isso para nós é muito rico.
IBRF - Para vocês que formam pessoas neurodivergentes, qual a importância de uma data como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo?
Esse dia é muito especial para a comunidade, porque nos traz a oportunidade de protagonismo, de contar nossas experiências, vivências, concretizar documentos que mostrem quais são nossas necessidades e possamos nos informar de direitos.
É um mix de sentimentos, eu tenho um carinho especial pela data, inclusive, não só por conta da Stardust Zone, mas também por eu mesma estar na jornada de finalização do meu diagnóstico de autismo, além de ser TDAH. Adicionalmente, tive a honra de representar o Brasil no evento oficial das Nações Unidas este ano, no dia 02 de Abril, conhecido em inglês como World Autism Awareness Day (WAAD).
No nosso caso, ao qual oferecemos oportunidades em educação profissional livre para pessoas neurodivergentes, como jornadas de aprendizado de programação, educação financeira entre outras habilidades, de forma virtual e com certificado de horas ao final, é um dia a ser celebrado intensamente.
A importância para a gente se centra em alguns fatores, como: 1) A reunião da comunidade, que faz parte da Stardust. É um momento de troca de experiências, apoio e celebração entre a rede. 2) É um momento de olharmos para dentro e pensarmos em "como podemos ser melhores? Como podemos oferecer melhores e mais integradas oportunidades?" e "o que podemos fazer para melhorar o cenário de empregabilidade em geral"?
E para a gente isso é singular. Além de ser uma data que nos ajuda a promover educação e sensibilização para as organizações também, porque é um dos períodos que mais somos convidados por instituições públicas e privadas a conectá-los com a comunidade autista e facilitar treinamentos e melhorias de políticas.
IBRF - Qual a receptividade das empresas com as pessoas que vocês formam?
Nosso compromisso vai além oferecer cursos e formações livres para as pessoas neurodivergentes, isso é parte do todo. Reconhecemos a necessidade de sensibilização e capacitação, tanto para as pessoas neurodivergentes quanto para as lideranças e equipes das organizações, e aplicamos isso.
Por meio de nossas jornadas de letramento e sensibilização em neurodiversidade, procuramos não apenas fornecer conhecimento, mas também promover uma mudança de mentalidade e cultura dentro das empresas, ajudando a promover que vejam as características positivas e desconstruindo percepções estigmatizadas.
Além disso, nossos projetos especiais atuam como consultoria para auxiliar as organizações em diversos aspectos, desde o processo seletivo até a implementação de acomodações razoáveis e o treinamento necessário para garantir a inclusão e a permanência de pessoas neurodivergentes.
Acreditamos firmemente que é esse esforço colaborativo e conjunto que leva ao sucesso mútuo, tanto para as empresas quanto para colaboradores neurodivergentes. Ao compreendermos e valorizarmos as necessidades e habilidades únicas de cada indivíduo, podemos criar ambientes de trabalho mais inclusivos, produtivos e enriquecedores para todas as pessoas envolvidas. Estamos empenhados em continuar trabalhando nessa via de mão dupla para promover uma maior compreensão e aceitação da neurodiversidade no ambiente corporativo.
IBRF - Como as empresas podem se preparar para serem mais diversas e se abrirem para a contratação de pessoas neurodivergentes?
Ah, há a parte de contratar a Stardust Zone para ajudá-las, assim como organizações dentro e fora do Brasil tem feito. Possuímos jornadas de letramento, workshops, disponibilização de match entre talentos neurodivergentes, eventos recorrentes e consultoria. Mas para além desse nosso portifólio, falando de uma forma ampla, para as organizações que lerão essa matéria, algumas de nossas principais recomendações são:
1) Procure por informação: É importante que as pessoas representantes das organizações pesquisem e aprendam sobre as diferentes condições neurodivergentes - como Autismo, TDAH, Dislexia, Superdotação, Borderline, dentre outras. Entendendo suas características, necessidades, direitos e potenciais no local de trabalho. É preciso também intencionalidade para quebrar vieses inconscientes e estigmas, desde a fase de elaboração da descrição da vaga.
2) Ouça a comunidade neurodivergente e crie oportunidades: A escuta atenta da comunidade neurodivergente é essencial. Nem sempre é necessário reinventar a roda. E será necessário lembrar que nem toda pessoa autista, TDAH, disléxica e afins são iguais, pois não são. Ou seja, não há uma "receita de bolo universal". Recomendamos que as organizações se envolvam ativamente com a comunidade, apoiando e participando de eventos sobre o tema, convidando pessoas palestrantes e consultores neurodivergentes periodicamente - para além de abril. Adicionalmente, pode-se adotar estratégias que aproveitem os saberes e necessidades das próprias pessoas neurodivergentes que já fazem parte da empresa, por meio de processos de coleta (e implementação) de sugestões e o fomento aos grupos de afinidade.
3) Invista na educação das lideranças e times de forma recorrente: A formação de líderes e equipes por meio de treinamentos específicos sobre neurodiversidade é uma prioridade. Recomendamos que os treinamentos sejam adaptados às necessidades de cada área funcional, reconhecendo e valorizando os diferentes talentos neurodivergentes nas equipes. Recomendamos também que esses treinamentos avancem com o passar do tempo, e não fiquem somente em uma fase superficial. Outro ponto muito importante, coisa que praticamos aqui na Stardust, é que esses treinamentos tenham métricas de eficácia e que possam gerar planos de ação para o curto, médio e longo prazo. Somente assim pessoas gestoras e times perceberão que estão evoluindo e maturando seu conhecimento, além de o colocar em prática.
4) Feedback e intencionalidade: Tenha intencionalidade nas ações da organização. A integração de políticas de feedback construtivo, aliada à revisão periódica das práticas de recrutamento, seleção, permanência e inclusão, é fundamental para garantir uma abordagem intencional e alinhada com os princípios da diversidade, equidade, acessibilidade e inclusão, com especial atenção à contratação e retenção de talentos neurodivergentes, neste caso.